Confesso que esse assunto é bem controverso e bem delicado de se tratar. Se tem uma cultura de que o uso de vitamina faz bem e previne o envelhecimento, mas como diz o geriatra Dr. Alberto de Macedo Soares, “o único jeito de não envelhecer, é morrer precocemente”.
A Sociedade Brasileira de Geriatria vê com preocupação não só as correntes ortomoleculares, que propagam o uso de vitaminas e de antioxidantes em larga escala, mas também vê com preocupação as academias e outras sociedades ditas de “antienvelhecimento”.
Abaixo vou mostrar alguns estudos relacionados ao uso de vitaminas:
22.701 pacientes (40 -84 anos), acompanhados durante em média de 12 anos com suplementação de 50 mg de beta-caroteno em dias alternados ou de 325 mg de aspirina ou placebo.
Resultado: NÃO houve qualquer benefício em relação à incidência de neoplasia ou sobre a mortalidade cardiovascular.
29.133 homens fumantes, com seguimento médio de 6 anos, com suplementação diária com 20 mg de beta-caroteno ou placebo.
Resultado: Aumento significativo do RISCO de desenvolvimento de CÂNCER de PULMÃO naqueles que receberam beta-caroteno em relação aqueles que receberam placebo e houve ainda aumento significativo de morte no grupo beta-caroteno.
18.314 fumantes, ex-fumantes e trabalhadores expostos à asbesto num seguimento médio de quatro anos. Suplementação diária de 30 mg de beta-caroteno + 25.000 UI de retinol
Resultado: Aumento dos riscos de câncer de pulmão, de mortes por doenças cardiovasculares e de morte por qualquer causa nos participantes que receberam a suplementação vitamínica. Este estudo foi interrompido 21 meses antes do previsto devido aos efeitos adversos deste tipo de suplementação.
Em uma meta-análise foram estudados os antioxidantes: BETA-CAROTENO, VITAMINAS A e E, VITAMINA C (acido ascórbico) e SELÊNIO.
Em 47 dos estudos analisados (180.938 participantes), o emprego desses antioxidante aumentou a MORTALIDADE em 5%.
Excluindo os estudos que utilizaram o selênio, os antioxidantes beta-caroteno, vitamina A, e vitamina E, aumentaram a MORTALIDADE em 7%, 16% e 4% respectivamente. A vitamina C e o selênio não tiveram efeito significativo na mortalidade.
O princípio de que se vitamina não fizer bem, mal também não faz cai por terra diante de tantos estudos.
Em uma entrevista super interessante com Dr. Drauzio Varela e Dr. Alberto sobre esse assunto, vou relatar alguns tópicos importantes:
Não há evidencias de que o maior consumo de VITAMINA C previna gripes e resfriados. Aliás, um jargão difundido no tempo de nossos avós era: gripe, vitamina C e cama. Hoje, o geriatra não prescreve vitamina C e muito menos cama. Porque as evidências são muito controversas nos pacientes imunocomprometidos, e colocá-los de cama pode representar fator predisponente para a pneumonia. Em suma , a conclusão das sociedades de geriatria é que, na imensa maioria dos casos, não ha a menor evidências de que a vitamina C deva ser indicada, apesar de ter demonstrado ação antioxidante nos tubos de ensaio, uma vez que essa resposta não ocorre nos seres humanos.
O excesso de vitamina C pode provocar cálculos renais, disturbios gastrintestinais e incômodo na bexiga porque acidifica a urina e isso provoca irritação.
Existem algumas situações em que as vitaminas são indicadas. É o caso da carência de vitamina B12, que pode provocar deficit de memória. Outro exemplo é o da indicação de vitamina D para os portadores de osteoporose. Sabemos que a associação de vitamina D e cálcio altera a densidade dos ossos, pois ajuda a fabricar tecido ósseo. E em todas as situações que a vitamina estiver em dose baixa ou deficiente em nosso organismo.
Brecar o envelhecimento é uma proposta sedutora, mas inviável e inacessível. Cabe-nos procurar envelhecer com qualidade de vida, com saúde, sem buscar medidas discutíveis e não comprovadas para retardar um processo natural do organismo.
“EDITORIAL AFIRMA COM VEEMÊNCIA QUE AS PESSOAS DEVEM PARAR DE USAR VITAMINAS INSDICRIMINADAMENTE. PARA OS EDITORES, EXCETO EM CASOS ESPECÍFICOS, O CASO DAS VITAMINAS ESTÁ ENCERRADO.
NA MELHOR DAS HIPÓTESES O USO DE SUPLEMENTAÇÃO É UMA PERDA DE DINHEIRO.” Ann Interm Med. 2013;159:850-851.